[RESENHA] O caso morel
O caso Morel, de Rubem Fonseca
Prazo de leitura: de 16/06/2018 até 19/06/2018.
Esse foi meu segundo livro de Rubem Fonseca, o primeiro sendo o "Agosto".
Confesso que este autor tem se me mostrado uma leitura bastante agradável, seja pelo retrato que faz de uma sociedade um tanto decadente, como pela maestria na condução da trama.
Bem verdade que embora o autor tente dar um ar um tanto chulo a algumas partes da narrativa, ele não "desce aos porões dos guetos" para usar palavras de baixo calão ou gírias próprias das comunidades locais, relegando-se a uma releitura do cotidiano sob a ótica de alguém que não vive ali.
Mas nada disso atrapalha a leitura da obra, pois é interessante ver como alguém de fora de um nicho se esforça para retratá-lo da melhor forma que consegue, embora seja um contraste inegável com a forma narrativa empregada por escritores que realmente saíram do nicho mais pobre ou dos rincões mais exclusivos.
Esse livro não fala sobre favelas ou comunidades desse tipo, mas busca mostrar a visão do autor sobre o nicho dos artistas e intelectuais excêntricos, que se dão aos jogos, bebedeiras e aventuras sexuais em busca da fuga do tédio.
O ENREDO
A obra narra a investigação acerca do assassinato/morte de uma moça, Heloísa, do qual Paul Morel é considerado culpado e preso. O livro segue a narrativa da versão dele da história para um repórter e que instiga neste uma investigação acerca dos fatos.
A bem da verdade, saber se a moça foi assassinada é o cerne da questão porque, como de costume neste autor, seus personagens são párias sociais, desregrados, dados a todo tipo de comportamento marginal para a sociedade, de modo que o consumo de drogas, lícitas e ilícitas, é lugar-comum nessa narrativa.
Dessa forma, narrativas de que os personagens estavam drogados, embriagados ou que, no caso das mulheres, apreciavam relações sexuais violentas, algumas pedindo para apanhar, não é nada raro aqui.
E esse é o ponto: a "vítima" era dada ao uso de bebidas e drogas, gostava de ser espancada no sexo e o Paul Morel não só correspondia às expectativas dela, como também fazia uso dos mesmos entorpecentes e é narrado ser comum ele não se recordar do que fizera quando sob efeito das drogas. Na noite em questão, ambos foram para a praia embriagados, dormiram, ele acordou já em seu apartamento e posteriormente veio a notícia de que sua amante fora morta, com sinais de esganadura.
E aí, foi ele, foi um terceiro, foi um acidente, foi um surto pelo efeito das drogas ou ela morreu afogada em vômito após uma pequena "diversão violenta" que teria deixado marcas?
A bem da verdade, saber se a moça foi assassinada é o cerne da questão porque, como de costume neste autor, seus personagens são párias sociais, desregrados, dados a todo tipo de comportamento marginal para a sociedade, de modo que o consumo de drogas, lícitas e ilícitas, é lugar-comum nessa narrativa.
Dessa forma, narrativas de que os personagens estavam drogados, embriagados ou que, no caso das mulheres, apreciavam relações sexuais violentas, algumas pedindo para apanhar, não é nada raro aqui.
E esse é o ponto: a "vítima" era dada ao uso de bebidas e drogas, gostava de ser espancada no sexo e o Paul Morel não só correspondia às expectativas dela, como também fazia uso dos mesmos entorpecentes e é narrado ser comum ele não se recordar do que fizera quando sob efeito das drogas. Na noite em questão, ambos foram para a praia embriagados, dormiram, ele acordou já em seu apartamento e posteriormente veio a notícia de que sua amante fora morta, com sinais de esganadura.
E aí, foi ele, foi um terceiro, foi um acidente, foi um surto pelo efeito das drogas ou ela morreu afogada em vômito após uma pequena "diversão violenta" que teria deixado marcas?
A trama fica interessante quando surge a figura de "Francisco", indivíduo que queria matar Morel, que o seguiu até a praia quando ele fora até ali com Heloísa, e tudo leva a crer que foi Francisco o assassino de Heloísa.
Porém, detalhes revelados na parte final do livro deixam a dúvida se foi ele mesmo ou o próprio Morel que, sob efeito de entorpecentes, teria matado Heloísa.
Particularmente acho que a narrativa pendia para um homicídio culposo, praticado sob efeito de entorpecentes, iniciado a partir de uma possível relação sexual mais aguerrida e consensual, e Morel deve ter sido mesmo o assassino. Mas, quem sabe?
Particularmente acho que a narrativa pendia para um homicídio culposo, praticado sob efeito de entorpecentes, iniciado a partir de uma possível relação sexual mais aguerrida e consensual, e Morel deve ter sido mesmo o assassino. Mas, quem sabe?
O livro é bem construído, a narrativa é recheada de "vivências do cotidiano" que Fonseca tanto retrata em suas obras e não é óbvia.
Tanto em "Agosto" como nesse, a descrição do cotidiano das personagens é permeado por comportamentos não usuais, o que pode ser uma tentativa do autor de chamar a atenção para o que ocorre nos porões da sociedade e que não é muito visível após se passar um "filtro ético" para divulgação às massas. Pode ser uma temática e ilustração recorrentes, impressão que se arraiga inda mais depois de ter lido, também deste autor, o "Vastas emoções e pensamentos imperfeitos", mas todo autor escreve a partir de seu entorno e daquilo que lhe chama mais atenção, não sendo isso demérito.
Se posso resumir, recomendo a leitura por ser uma trama policial, no final das contas, leve, sem requintes muito realistas mesmo ao descrever a morte de Heloísa e as aventuras sexuais dos personagens, além de instigar a imaginação.
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