[RESENHA] Fique comigo

Fique Comigo, de Ayọ̀bámi Adébáyọ̀





Prazo de leitura: de 24/11/2018 até 26/11/2018



Mais uma grata surpresa advinda da TAG Inéditos, da escritora nigeriana Ayọ̀bámi Adébáyọ̀.




A história foi muito bem construída e tem um ritmo de tirar o fôlego.

Há bem pouco tempo que venho tomando contato com escritores africanos porque eles não eram muito bem divulgados no Brasil e aqueles que eram, usualmente eram de antigas colônias portuguesas.

Particularmente não tenho qualquer problema em ler autores africanos brancos, nacionalistas, mais voltados aos temas políticos do que culturais, mas isso vai se tornando repetitivo ao longo do tempo e praticamente é isto que tenho lido em resenhas acerca de alguns. É como se um autor escrevesse sempre a mesma estória, variando apenas os focos de observação e nomes de personagens, mas quando lemos uma autora negra, que escreve de forma imersiva na cultura local, mantida apesar dos incursos culturais dos colonizadores, isso é reconfortante e foi o que essa autora me proporcionou.



O ENREDO



Aqui nos defrontamos com uma família tradicional da Nigéria, mas que também teve aportes culturais da colonização europeia, especificamente neste caso, da Inglaterra, vez que a Nigéria faz parte do Commonwealth (países independentes, antigas colônias, que atualmente reconhecem o soberano britânico como Chefe de Estado).

Durante a narrativa é mostrada algumas vezes a situação daqueles que sabiam ler e falar inglês em comparação com aqueles que não sabiam ler e que falavam apenas a língua materna, o iorubá, sugerindo o contraste entre a tradição e a "novidade", embora atualmente o inglês seja a língua materna (oficial) da Nigéria.

O livro nos conta a história do casamento entre Akin, cuja família é fortemente ligada às tradições iorubá (mas ele não) e Yejide, apresentada como uma mulher independente, mas ainda respeitosa em relação às tradições nacionais.

Tudo se passa ao redor da tentativa de Yejide de engravidar, as pressões da família de Akin quanto à sua descendência, muito controladora, e a "saída" encontrada pela família: a admissão de uma segunda esposa, Funmi, com o que Yejide não concorda, mas é obrigada a aceitar, em nome da tradição, após a promessa de Akin de que aquilo seria uma relação de conveniências e que Funmi seria deixada de escanteio ou apenas serviria para "cumprir a tradição".

Pronto: o embate entre a monogamia e a poligamia estava armado.

Fato é que Yejide nunca conseguia engravidar de Akin, até que teve os primeiros sinais, que Akin contestou e tudo só ficou claro depois de passados mais de um ano de "gravidez": era uma falsa gravidez.










Depois de muitas situações conflituosas, Yejide teve três filhos e todos eles desenvolvem a anemia falciforme, doença causada por genes recessivos "ss" embora Akin, para tal moléstia, tinha genes "AA". Por fim ficamos sabendo que, na verdade, os filhos eram do irmão de Akin e era ele que tinha os genes recessivos para tal moléstia. Tudo fora um acordo, um pedido de Akin, para que seu irmão engravidasse sua esposa, pois ela queria muito engravidar e ele não conseguia que isso acontecesse. E o motivo? Ele era impotente e como ela era virgem ao se casarem, disse que era normal a falta de enrijecimento peniano e ela acreditou que mesmo assim eles ainda mantinham vida sexual normal.











Confesso que o livro ia dando pistas do que seria a conclusão da história, mas eu admito que não consegui antever nada. Suspeitar, eu suspeitava, mas não consegui antecipar os elos da história, o que foi muito bacana.

É um livro para ser muito bem degustado, com uma escrita envolvente e ritmada e que mostra bem os detalhes da cultura tradicional da Nigéria e o confronto desta com as culturas importadas da Europa.

A leitura foi num fôlego só. Suas mais de 300 páginas foram lidas praticamente em três dias, sem leituras a noite. Dá para perceber o quanto o enredo é "vira-páginas".

Mas não se espere um livro profundo, de discussão de temas chocantes. Nada disso. É bem mais leve, estilo "passatempo" e só tangencia as questões acerca da tradição cultura e dos relacionamentos.






CONCLUSÃO

Eu não conheço praticamente nada da literatura africana, nunca li qualquer autor do continente, embora tenha alguns livros de autores dali, de modo que esse primeiro contato com uma autora que nos conta sobre parte das tradições locais foi muito interessante, portanto sua leitura, creio eu, seja recomendável, tanto quanto a de Pepetela, Mia Couto e outros.

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