[RESENHA] O homem de giz

Terminado "O homem de giz", de C.J. Tudor.

A trama, nas propagandas do livro, é direcionada àqueles que gostam do estilo de "Stranger things", mas podemos falar a verdade? 

Não vi qualquer identidade entre ambas as obras.

"Stranger Things" tem muito componente fantástico, pessoas vítimas de experimentos mirabolantes, poderes psíquicos de uma personagem, supostos mundos paralelos e muita ficção científica, fatos que são completamente inexistentes em "O homem de giz".

O único ponto de identidade entre ambas, é serem protagonizados por crianças. Apenas isso.

O ponto positivo de Tudor foi escrever uma obra que eu classificaria como YA (Young-Adult) mixada com thriller e que não é óbvia, não permitindo prever o futuro da trama.

O mistério que circunda a obra é o misterioso aparecimento de homens de giz em cenas específicas da trama, mas isso não tem nada de sobrenatural e é perfeitamente percebido pelo leitor como sendo apenas duas hipóteses: ou um serial killer está se aproveitando dos símbolos que os meninos usaram para se comunicar e está apenas desviando a atenção dos investigadores dele para os meninos, ou um dos meninos é o assassino.

Não há espaço para sci-fi nesta obra ou de aspectos de terror, como vai ficando bem claro à medida que a leitura prossegue.

Tudo o que se pode dizer, sem dar spoiler, é que o desenhistas dos homens de giz sabe muito sobre os crimes, porque à medida que vão acontecendo mais homens de giz são encontrados desenhados em situações similares ou idênticas ao crime cometido: enforcado, afogado, sem membros, etc. e isso ajuda a povoar nossa mente de dúvidas e suspeitas quando tentamos desvendar o mistério.

Esse é um daqueles livros que prende o leitor e o desafia a tentar descobrir a trama.



Logo no início é falado sobre um assassinato ocorrido na floresta em que a cabeça da vítima, uma menina, não foi jamais encontrada, porém é dito também que alguém com uma mochila se aproxima do corpo esquartejado, vê a cabeça e a guarda, ou seja, a partir daí temos elementos de que ou essa cabeça será descoberta ao final, denunciando o assassino, ou ao menos o depositário deste souvenir será identificado mais adiante.

E isso é um truque de roteiro meio óbvio, pois para que serviria narrar que alguém ficou com a cabeça da menina, se isso não adiantasse de nada no restante ou no final do livro?

Talvez o ponto interessante da obra é fazer a ligação entre os fatos acontecidos em 1986 e os crimes que vão acontecendo em 2016, sugerindo que alguma força sobrenatural (que eu já disse que não existe, mas no momento parece existir) esteja fazendo vingança ou justiça aos fatos ocorridos em 1986. E para deixar as coisas mais complicadas, a trama é narrada pela perspectiva de Eddie, que vivenciou tanto os crimes de 1986 como os que aconteciam em 2016 e todos sabemos que narradores em primeira pessoa são sempre parciais, de modo que não se sabe o quanto do que é dito é verdade, fantasia, invenção ou realidade e aí sim a obra se torna interessante.


O que entendi como uma licença literária da autora foi a ligação feita entre todos os crimes porque apenas em uma olhadela bem de soslaio se consegue verificar a ligação da menina decapitada da floresta com os demais crimes que ocorreram.


Mas a revelação do/a/s assassino/a/s se mostrou bastante chocante, confesso, porque foi o mais improvável dos improváveis, porém com a motivação mais "modinha" em termos de procura pelos possíveis causas da sandice de nosso tempo, que é a religião servindo de pano de fundo para os crimes.

O curioso é que as personagens nitidamente religiosas da trama não dão sinais de fanatismo durante o decorrer, por isso surpreende, e muito, a descoberta e por isso causa tanta estranheza... mas a bem da verdade, se a pessoa se comportasse como um extremista religioso, um dos indícios já poderia estar ali, bem debaixo de nossas vistas.

MINHA OPINIÃO

Enfim, acho que o livro não é toda aquela badalação que se formou em torno dele, mas é um ótimo livro, que vale a pena ser lido, sem a expectativa exagerada de estar lendo algo similar aos livros de Stephen King, como tem sido dito, e tanto isso é verdade que hoje, julho/2018, o livro não é mais comentado como foi no seu lançamento e, comparando, quando um livro do King foi esquecido, digamos, depois de 30 anos de seu lançamento?

Ademais, não podemos nos esquecer que entre os booktubers e blogueiros literários mais famosos e as editoras pode haver contratos para envio de livros e subsequentes resenhas, que podem cativar demasiadamente as opiniões, mesmo porque "enviar livros a famosos" é um dos meios de marketing mais baratos para os conglomerados editoriais, não é mesmo?

Eu sou daqueles que não gosta de ler lançamentos, mas prefere ler com mais calma um tempinho depois para conseguir ter uma opinião não enfeitiçada pela dos demais e isso, neste livro, funcionou porque consegui ler sem preconceitos, sem ânsias e isso ajudou muito.

O acabamento feito pela Editora Intrínseca é dos melhores: capa dura, lombada em cor preta, miolo 80g, ou seja, realmente primorosa.

Recomendo a leitura.

Mas agora, sigamos a reta mais curva desse plano!


Comentários

Mais vistos

[RESENHA] E não sobrou nenhuma... mas, sim, sobrou um: eu

[RESENHA] O CASAL QUE MORA AO LADO, de Shari Lapena

Minha meia-meta 2018