[RESENHA] A vendedora de livros



Em 26/06/2018 eu terminei "A vendedora de livros", de Cynthia Swanson.




Um livro um tanto diferente e que prende bastante o leitor.


Esse livro foi recebido pela TAG Experiências Literárias, sob o selo "TAG Inéditos" e me surpreendeu muito. Há promessa de que se torne filme, protagonizado pela Julia Roberts

O enrendo narra a história de Kitty, sócia de uma pequena livraria, que começa a ter sonhos bastante vívidos dela mesma em outra vida, na qual ela seria Katharyn (rica dona de casa), casada com o "homem dos sonhos", com filhos e tendo a vida que sempre quis, mostrando a alternância dessa mesma pessoa nessas duas vidas, cada vez que Kitty sonhava.

Em sua vida como Kitty ela é sócia de Frieda, sua melhor amiga, enquanto como Katharyn, ambas não se falam mais por algum evento ocorrido no passado de ambas. 


Os pais de Kitty ainda são vivos, mas os pais de Katharyn já morreram. 

Kitty vive em 1962 e Katharyn vive em 1963. 

Kitty pensa ter levado um fora de Lars, mas ele tinha morrido minutos depois de se falarem. Katharyn, por sua vez, ao falar com Lars pelo telefone ouviu quando ele teve um infarto, tomou providências, salvou a vida dele e ambos se casaram, numa vida de sonhos.

Kitty gostaria de se casar e ter filhos, mas pensa que seu tempo está quase acabado. Katharyn, por sua vez, tem trigêmeos com Lars, um dos quais é autista.




Os sonhos de Kitty eram tão lúcidos que pareciam transportá-la para a vida alternativa de Katharyn, que ela sempre quisera ter. Por sua vez, a vida de Kitty tinha suas dificuldades mas também tudo que uma pessoa precisava para ser feliz: uma amiga leal, os pais sempre apoiadores, um gato e o empreendedorismo, entusiasmo e gana num negócio fadado ao fracasso (livraria), naquele ponto comercial desprestigiado.

O pulo do gato do livro é que tudo que faltava na vida de Katharyn era suprido na vida de Kitty e vice-versa, e já se começa a questionar se a sonhadora é que tem as perdas existenciais ou a que tem suficiência em todas as áreas (menos a afetiva: Kitty, claro). 

A narrativa em si é bem fluida, não há plot twist, tudo parece se encaixar em ambas as "vidas" da protagonista, dificultando saber porque ambas são tão "reais". O estilo narrativo em primeira pessoa não nos coloca em contato com a realidade dos fatos em si, mas (obviamente) com a percepção da personagem enquanto vivencia cada experiência. Esse recurso é interessante por não entregar logo de imediato o que está acontecendo e assim forçar o leitor a querer descobrir o segredo antes do final.

"Narradores em primeira pessoa são sempre parciais" é um adágio que não se encaixa neste livro, visto que essa é uma verdade quando se fala em memórias de um personagem que não teve um comprometimento ético com a vida, mas em se tratando de uma narrativa de confusão existencial, não se aplica, pois serve apenas para criar suspense e não para se auto-justificar frente a comportamentos incorretos.




Para minha surpresa a sonhadora era Katharyn, que surtou devido a morte de seus pais e criou essa realidade paralela, Kitty, na qual eles ainda viviam, para tentar lidar com isso, além de ser uma tentativa de resgate de sua amizade com Frieda.

Obviamente não deu certo de forma permanente, mas com isso ela conseguiu ordenar os passos de sua vida e aceitar as coisas que lhe aconteceram: a morte dos pais, perder a amiga Frieda, ter um filho autista com o qual não sabia lidar (o livro se passa em 1963, e as teses para a ocorrência do Autismo colocavam a culpa na mãe!!). 

Funcionou pra ela esse escape temporária, mas acho que a receita não vai se popularizar.


MINHA OPINIÃO

Não seria a minha primeira opção de leitura e não tem nada de excepcional, mas como leitura recreativa, tipo passatempo, vale a pena por ser leve, fluida e bem construída. 

Acho que as construções poderiam ter incrementado mais as coincidências que evitavam que descobríssemos que Katharyn era a real sonhadora, tal qual foi feita nas inúmeras cenas em que Bruce Willis, em O sexto sentido, contracenava com pessoas vivas, conversava com elas e o que elas diziam se encaixava bem com a resposta que ele ou queria ou não queria ouvir, dando um senso de interação. Isso só aconteceu, e sem qualquer interação, quando ela parou em frente a casa dos pais com o filho Michael, querendo entrar, mas desistindo e tocando o carro adiante.

Dessa forma não é um livro que cative pela trama, mas sim pela forma como a autora trabalha os traumas da protagonista pelo mecanismo da fuga, tão comum nos dias atuais.

De mais a mais, recomendo a leitura como uma boa diversão e um mergulho raso na mente humana.












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