[RESENHA] "A boa filha": A Corte julgará o caso Slaughter x Turow

Todos de pé para a entrada do Excelentíssimo Senhor Juiz deste caso, Sr. Say Yourself.

Sou assinante da TAG Inéditos e o primeiro livro recebido foi "A boa filha", de Karin Slaughter

A trama é dupla: os dramas da família de advogados, os Quinn, e o assassinato de duas pessoas numa escola.

Nesse thriller há um foco bem maior nas vidas privadas das irmãs advogadas e do pai, mas de uma forma bem crua, bem realista.

Quando cenas de Tribunais são ambientadas, os diálogos são muito similares ao cotidiano das salas de audiências, com todo aquele teatro e o jogo de "quem está mais certo?", mas diferente do sistema americano, o brasileiro não permite tantas surpresas em questão de evidências e provas. 

Mas isso é o "de menos".

Mas por que raios o nome de Scott Turow foi mencionado?

Porque ele também ambienta seus romances sobre fatos que necessitarão ser apresentados para julgamento e os protagonistas, obviamente, são sempre advogados, desde o "superstar consciente de si" até o "zero a esquerda que, neste livro, foi o grande campeão", passando por outros do lado oposto: "eterno perdedor", "advogado bandido e de bandido", etc.

Na verdade, penso eu que Scott Turow não escreve o que se poderia chamar de "trama de Tribunal" propriamente dito.... Não, não é que não haja cenas de julgamentos... Há... Mas o foco dele me parece ser a vida dos advogados além das salas de julgamento.

Algo em Turow me insinua que ele goste de mostrar suas personagens como "advogados que têm uma vida além-Tribunais e esta vida é fantástica, cheia de aventuras, cheia de surpresas" ou algo do gênero.

E não bastasse essas pessoas terem vidas esfuziantes, se pintar alguma problema mais sério e isso tiver que ser resolvido na Justiça, tudo bem: eles também conseguem "falar com o Juiz".

Sim, não bastasse serem pessoas interessantes, eles também tem permissão de fazer os juízes trabalharem!! De conversar com eles!! Se todos têm problemas, esses advogados têm acesso a quem resolve problemas!

Do mesmo modo, outros autores, como John Grisham, até trabalham o aspecto pessoal de seus personagens, mas apenas para mostrar que são pessoas problemáticas, que isso afeta o lado profissional, que na iminência de tudo dar errado aparece "o caso de suas vidas" e eles têm um bom desempenho, mas quanto às tramas de Tribunal creio que deixa a desejar.

Uma exceção em Grisham foi o livro "Os Litigantes" no qual há um viés maior à lide do que comumente se vê e no final o protagonista não tem aquele êxito todo que se espera, mas a coisa dá certo.

Creio que quando o autor já atua no Poder Judiciário, seja como Magistrado, Ministério Público ou Advogado, o foco se intensifique mais na vida privada de seus personagens e não tanto nos debates em julgamento, pois todos eles já vivem isso cotidianamente e dão apenas aquela deixa para que suas profissões possam permear o enredo do livro. Digamos que ocorre um meio-a-meio entre a vida privada e a pública como operador do Direito.

Já quando o autor não é jurista, noto que ele dá maior importância aos enredos de sala de audiência, estratégias processuais, etc., talvez porque não viva isso cotidianamente e tenha interesse até em aprender como o sistema funciona.

Dessa forma, unido os thrillers de autores juristas e não-juristas, creio termos uma boa dosagem de "juridiquês" para todos os gostos, bem como de intrigas privadas e aventuras que permeiam os romances em geral.

Mas não sou eu quem julgará isso.Será Sr. Say Yourself.

Com a palavra, o Meritíssimo.


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