[RESENHA] Borges é nome de gato?
Esses dias terminei a leitura de "Um gato chamado Borges", de Vilto Reis.
O exemplar foi recebido pela minha assinatura no clube literário "Sabiá Livreiro" e veio autografado pelo autor.
A obra conta a estória de um jornalista obrigado pela sua editora a entrevistar "J.M." para o jornal em que trabalha, mesmo não gostando da tarefa.
A afinidade entre ambos é zero, o jornalista demonstra claramente que não gosta de estar ali e que aquilo que lhe vai sendo contado é fantasioso ao extremo.
Basicamente o João Magalhães, o JM, conta a estória de seu emprego numa rádio em que foi colocado para anunciar os obituários da cidade e nisso ele nota uma coisa curiosa: a maioria das mortes se dava por suicídio e isso o intrigou ao ponto de querer investigar se havia uma ligação entre eles.
JM realmente descobre uma pessoa sempre citada naquela cidade e que poderia ser o ponto de convergência entre os suicídios, com o qual ele tem certa semelhança. Narra que há um certo preconceito dos moradores locais para receberem e se abrirem com estranhos, mas ele vai superando isso a medida que se entrosa mais na comunidade e vai conhecendo os bad boys locais.
O problema que o jornalista detecta, e o leitor simultaneamente, é que a narrativa de João passa a misturar a ficção que é o livro com a ficção dentro da ficção, que fica na cabeça do João, e aí ninguém mais sabe o que é delírio e o que é realidade, tampouco ajuda invocar testemunhas para corroborar tanto a fantasiosidade como a historicidade da narrativa.
A escrita é bem contemporânea, fazendo bom uso de jargões e expressões cotidianas, gírias e expressões informais, numa tentativa de aproximação com a realidade que me pareceu bastante apropriada. Não é nada que choque o leitor, mas é impactante para aqueles que, como eu, não estão habituados com a literatura contemporânea e que passou boa parte da vida lendo os clássicos estrangeiros e nacionais do século XIX e início do XX, com raras exceções.
A trama foi bem trabalhada, a psiquê dos personagens bem desenvolvida e sempre tem em um capítulo algo que instiga seguir adiante, algo como um vira-página, para usar um dos mais novos jargões literários, e é exatamente isso que acontece: você gosta de continuar lendo.
E o título? Refere-se a um felino mesmo, que pertencia a uma família com a qual João fez amizade, mas tem uma curiosa participação mítica no final da trama, quase como uma entidade disfarçada, mas que não desempenha qualquer papel de vanguarda, exceto estar e não estar "lá".
Resumindo, é uma bom quebra-paradigmas cuja leitura é agradável e fluente, valendo bastante a pena conhecer.
Sigamos adiante, ora pois!
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