[RESENHA] A PARÁBOLA DOS TALENTOS
A parábola dos talentos, de Octavia E. Butler
554p., Morrobranco
Goodreads: 4,24; Skoob: 4,8
Leitura: de 03/11 a 24/11/2019
Trata-se
da continuação de "A parábola do semeador", na qual Lauren retrata seus
muitos problemas para consolidar a comunidade de Bolota para
implantação da Semente da Terra, ao lado de narrativas de outros
personagens, como Bankole, Marcus e Larkin.
Nele é mostrado o que
de pior pode acontecer quando o extremismo cristão se alia à política
para comandar um país ecologicamente degradado e economicamente
instável, bem ao estilo da Inquisição e da KKK em relação a outras
religiões.
Existe um braço ativista chamado "Cruzados" que executa os
atos violentos que a Igreja da América Cristã, hegemônica, quer que seja
feito, mas não pode assumir que assim deseja. E este braço invade
Bolota, assume sua gestão e a torna um "Campo de reeducação", matando
alguns membros da Semente da Terra, estuprando as mulheres e
sequestrando os filhos menores para entregá-los à adoção por "boas
famílias cristãs". Aqui o Cristianismo é retratado com sua pior face. O
"baixo clero" até acredita estar seguindo os mandamentos bíblicos, mas
faz vistas grossas para as atividades heréticas e criminosas da
liderança em prol da manutenção de sua situação na hierarquia da Igreja.
O
livro, além de narrar os dramas familiares de Olamina em busca de sua
filha e sua relação tempestuosa com o irmão Marcus Duran, agora ministro
da IAC, sugere a consequência da repressão de outras religiões por uma
dominante e extremista aliada ao poder político: quando isso cansa a
população, o recurso para afastar a situação é se voltar para as seitas
de resistência, que com isso ganham mais e mais poder e podem sobrepujar
a sua perseguidora. Isso já ocorreu no passado, e a autora propõe um
prognóstico viável de repetição no futuro.
Ao contrário disso, a
Semente da Terra é mostrada como uma religião tecnicamente deísta, de
cunho sinergista e pragmático, alheia ao sobrenaturalismo, mas que
mostra e conduz o que precisa ser feito para que o homem atinja seus
objetivos sem depender de ninguém, nem de que Deus lhe dê uma "chuva de
bênçãos". É o homem que deve trabalhar por si.
Recomendo.
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