[RESENHA] A Defesa
A defesa, D.W. Buffa
Prazo de leitura: de 29/11/2018 até 02/12/2018
Enfim terminei a leitura de "A defesa", segundo thriller legal de D.W. Buffa, adquirido depois de muitos anos de já ter conseguido "O Processo".
O autor, Dudley W. Buffa, é PhD em Ciência Política e atou como advogado de defesa em matéria criminal, o que lhe proporcionou material para a criação de Joseph Antonelli, seu personagem principal nesta obra.


"O processo" eu li enquanto ainda cursava a Faculdade de Direito e ele me proporcionou uma das frases nas quais mais tenho pensado desde então: "Eu deixei de ser um advogado que procurava provar a inocência dos meus clientes para me tornar aquele que insistia na falta de provas contra eles".
Para quem conhece Direito essa sutil diferença tem toda uma gama de significados.
O ENREDO
"A defesa" seria o romance de estreia do autor, no qual somos apresentados ao personagem principal, Joseph Antonelli, advogado rico, viciado em vencer causas e de boas relações com todos, exceto com aqueles que seriam, também, desafetos de todos.
Talvez pelo fato do autor ser advogado, ele não enfatize as discussões típicas de um tribunal ou arrazoados processuais, mas centra-se na personalidade e no cotidiano de cada um.
Aqui somos introduzidos ao advogado já mencionado, ao Promotor Horace Wolner e ao Juiz Leopold Rifkin, bem como à "inimiga comum", Gwendolyn Gillilan-O'Rourke, promotora candidata a Promotor Regional e, talvez, a Governadora do Estado. Além, claro, dos clientes de Antonelli, Johnny e Denise Morel.
Primeiramente, Johnny foi acusado de estuprar sua enteada de 12 anos, Michelle, e o Juiz Rifkin pede que Antonelli faça a sua defesa. A mãe da garota, Denise, testemunha que a acusação de Michelle é falsa e decorre de sua indisposição contra o padrasto porque ele reprimia suas condutas impróprias e, com isso, Johnny é absolvido.
Disso decorre toda a trama do livro, pois outros personagens aparecem para atestar que Johnny seria culpado, que Denise seria cúmplice por ser drogada e influenciável, inclusive um antigo cliente de Antonelli, Carmen Mara (ladrão medíocre) e Myrna Albright (amiga, ex-amante de Denise Morel). Esta última sentia extrema pena por Michelle.
O livro dá longos saltos temporais, aparentemente sem qualquer conexão, por exemplo, cinco anos após sua absolvição Johnny aparece morto... pouco tempo depois, também Denise é assassinada na mansão do Juiz Rifkin e este se torna cliente de Antonelli também, sendo acusado pela Promotora Gillilan-O'Rourke.
Como os assassinatos dos Morel ocorreram todos no mesmo dia, 17 de abril, mesma data de sua absolvição, Antonelli pensa que Myrna Albright fosse a "vingadora" e parte em sua procura enquanto defende Rifkin, sem sucesso. Alexandra, uma paralegal de seu escritório que se torna sua amante, cogita a ideia de que Michelle poderia ser a autora, mas Antonelli não lhe dá crédito, até que essa ideia vai tomando corpo a medida que a trama segue.
Durante todo o transcurso da narrativa diversos diálogos e pensamentos depreciativos de Antonelli e Wolner são mostrados, principalmente quando se referiam a alguém que consideravam inferior, contudo sem qualquer palavra de baixo calão.
O curioso deste livro é que até o capítulo 16 tudo parece uma confusa reunião de situações desconexas e sem que imaginemos aonde a leitura de tantas páginas vai nos levar. A guinada só acontece a partir daí, quando todas as pontas soltas anteriores vão se unindo e possibilitando ao leitor algumas tentativas de prever o final.
Porém, acho pouco provável que qualquer pessoa suspeitasse que Alexandra é, na verdade, Michelle Morel e a grande arquiteta da trama toda, considerando o lapso de tempo entre as mortes dos Morel e a forma como ela manipulou tudo e todos sem sequer aparecer nitidamente.
Como dito, é um bom romance, mas não um no qual sejam mostradas grandes cenas de tribunal, como em "Law & Order" em suas primeiras temporadas, na qual cada episódio obrigatoriamente terminava em um julgamento. Aqui o foco é cada profissional fora dos tribunais, embora algumas poucas cenas sejam mostradas.
Mas eu creio que o autor poderia ter dado mais atenção às fases processuais, principalmente às cenas de sala de audiência, pois desde "O processo" era isso que eu esperava de um advogado que escreve sobre suspense legal.
Tenho notado que quando os autores de suspenses legais não são juristas eles dão mais ênfase ao estar na sala de audiências, ao passo que os juristas escritores preferem evidenciar o cotidiano de cada personagem das cenas judiciárias, o que é interessante, desde que o leitor já se atente a isso antes de adquirir as obras e tenha certeza do que esperar.
CONCLUSÃO
Pode-se dizer que é um livro não tão denso, mas não tão "vira-página", embora passados os 15 primeiros capítulos aparentemente sem sentido, do 16º em diante seja bem difícil parar de ler.
A conclusão me pareceu um tanto "Deus ex machina" vindo salvar o dia ao elucidar os mistérios da trama, mas se a intenção do autor era deixar realmente essa dúvida nos personagens, não no leitor, tudo bem.
Recomendo a leitura, embora ambos os livros de Buffa estejam esgotados, sendo encontrados apenas em sebos.
Comentários
Postar um comentário