Iniciando a grande tocaia

"Tocaia Grande: A face obscura" de Jorge Amado





A leitura flui bem e é imersiva na cultura do sertanejo... a tal ponto que inevitáveis formas de linguagem e trato interpessoal são retratados de forma bastante crua, mas com uma sonoridade que faz parecer natural mesmo àqueles que, como eu, estão separados do enredo tanto pelo tempo como pelo espaço.

Não faltam palavrões, xingamentos (inclusive em francês e árabe), intrigas e cavilações, mas não é algo chulo, nem rude. Durante a narrativa os "charmuta" e outros aparecem como consequência linear e desfecho, se pensarmos que tipo de personalidade o personagem retratado ostenta. Há, claro, palavras que eu sequer sabia existir e outros neologismos interessantes como o "vavavá" para significar aquele bate-boca e empurra-empurra que precedem uma briga ou que ficam só nesse ânimo mesmo. Muito bacana de ler.

Jorge Amado consegue escrever de forma que o narrador não parece um estranho olhando os eventos de fora, mas o que se sente é que o próprio personagem resolveu fazer um extra de narrador e se pôs a contar o que está sentindo num exato momento, quando a perspectiva do personagem precisa ser mostrada com mais intimismo.

Mas o importante de se levar em conta é que a personagem principal é o próprio lugar, o descampado que se tornou arruado, que depois virou povoado e, por fim, cidade. Tanto que a narrativa já começa informando que se está na sua inauguração como cidade, setenta anos depois dos eventos de sua ocupação.

Nunca li nada de Jorge Amado, mas na década de 1980 seu romance Tieta foi transformado em novela e até que foi interessante. Obviamente que o público pudico não estava preparado para o linguajar cru e direto que foi ali "telemostrado", mas, lendo Tocaia Grande, suspeito que em Tieta os escritos devem exceder bem mais o que se viu na novela.

Ainda me faltam muitas páginas, mas já vejo que é uma daquelas leituras que eu não deveria deixar de fazer.

Continuemos.

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