[RESENHA] "Tocaia grande": Tocaiamos, pois! E que senhor final!

"Tocaia Grande: a face obscura" de Jorge Amado



E acabou-se!!



Livro fantástico! Enredo envolvente! Cultura pulsante!

Como a narrativa era em tom retrospectivo eu imaginei que, em se tratando de estórias de jagunços, não faltariam banhos de sangue e o sacrifício dos então subprotagonistas da trama... E isso de fato ocorreu! O que confirma que o grande protagonista era mesmo o arruado/vilarejo/povoado/cidade e não as pessoas que ali se encontraram.

O que mais chama a atenção é a forma ímpar com que Jorge Amado retrata o cotidiano do sertanejo, num arroubo bairrista, mas extremamente necessário para que o leitor saia daquele eixo sul-sudeste de autores e enredos, e descubra a riqueza cultural das demais regiões brasileiras.

O enredo em si dá muitas lições de vida sobre a fidelidade, a ombridade, a simplicidade e a lealdade, mas também mostrou o perigo que pode representar alguém que tenha riquezas e poder ao seu dispor e tenha manias de mandão, como o Coronel Boaventura Andrade Filho (ele preferia "Júnior" por ter mais ares metropolitanos), o Venturinha.

Esse era o filho do Coronel Boaventura Andrade, patrão, protetor e benfeitor do Capitão Natário, que partiu para estudar Direito no Rio de Janeiro, esperança de retorno mantida pelo pai para cuidar das roças de cacau, mas que se encantou por ter muito dinheiro e muito a desfrutar na então Capital nacional, e sempre inventava cursos e mais cursos para não ter que voltar à Bahia.

O pai ajudou Natário a manter-se, dando-lhe um pedaço de terra que se tornou a Fazenda Boa Vista, e Natário foi o visionário "fundador" de Tocaia Grande, junto com Fadul, Tição Abduin e as prostitutas, e continuou administrando a Fazenda Atalaia, do velho Cel. Boaventura. O velho também era o manda-chuva em Itabuna, com influência para nomear Juízes, Delegados, Intendentes e todas as demais autoridades ali existentes.

Quando o velho Coronel morre, Júnior Venturinha (vamos chamá-lo tal qual no romance, né?) volta cheio de mandos e desmandos, mas não consegue que Natário prossiga na administração da Atalaia. Aí começou a birra de que só saberemos no final do livro que, obviamente, não contarei.

Muitos se perguntam como um amontoado de letras em algumas folhas de papel encadernadas podem contribuir para o melhoramento social. A resposta mais simples é que pode e pronto.

Avancemos, pois.

O próximo? "Agosto", de Rubem Fonseca.

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